domingo, 20 de novembro de 2011

Os quatro sofrimentos


Refletir e aceitar a morte é a melhor maneira de aproveitar a vida
Os quatro sofrimentos, de acordo com o budismo, são nascimento, doença, envelhecimento e morte. O budismo surgiu para encontrar uma solução para essas questões. E essa resposta é fundamental para a conquista da felicidade absoluta. Entenda o porquê.

Os quatro sofrimentos estão ligados à origem do budismo. Sakyamuni, o fundador do budismo, nasceu como príncipe herdeiro do clã Sakya, há mais de dois mil e quinhentos anos, nas colinas ao sopé do Himalaia, na Índia. Sua mãe morreu após seu nascimento e ele foi criado pela tia.

Apesar de viver em meio à riqueza, Sakyamuni possuía inteligência e sensibilidade aguçadas e começou a refletir constantemente sobre o significado da vida e do mundo procurando uma verdade eterna.
Ao sair do palácio em quatro ocasiões, Sakyamuni encontrou no portão leste um homem idoso; no portão sul, uma pessoa doente; no portão oeste defrontou-se com um cadáver; finalmente, saindo pelo portão norte, encontrou um asceta religioso. Esses encontros foram determinantes para sua decisão de renunciar ao mundo secular.
Os quatro sofrimentos
O homem idoso, o doente e o cadáver representavam os sofrimentos de envelhecimento, doença e morte, que ao lado do nascimento, ou da própria vida, são chamados de quatro sofrimentos. O nascimento representa o início da manifestação cármica; a doença, a agonia; o envelhecimento, a solidão; e, a morte, o medo. Esses sofrimentos são inerentes à vida

Sakyamuni, ao se confrontar com o nascimento, o envelhecimento, a doença e a morte compreendeu o vazio do desejo e percebeu que tudo estava sujeito a mudanças. Em consequência, ele renunciou ao modo de vida no qual havia crescido e embarcou numa busca por respostas.
Como resultado, quando estava com aproximadamente trinta anos, Sakyamuni meditava sob uma árvore numa localidade, posteriormente conhecida como bodhigaya. Ali, finalmente ele atingiu a iluminação, tornando-se o Buda ou o “Iluminado”, encontrando a chave para a questão dos quatro sofrimentos.

Os quatro sofrimentos da vida são causados pelo pensamento de que a pessoa existe separada do universo, sendo possível viver de forma egocêntrica, baseada nos apegos pessoais e guiada pela indiferença em relação ao sofrimento alheio. Ao basear sua existência na vida cósmica que eternamente permeia o imenso universo, é possível transformar os quatro sofrimentos em quatro nobres virtudes do Buda — eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza. A finalidade dos ensinos de Sakyamuni era esclarecer esse único ponto.

Por que quatro sofrimentos?
O que torna o nascimento, o envelhecimento, a doença e a morte um sofrimento é o apego ao externo. Os quatro sofrimentos provocam a separação e a mudança de tudo que é mutável. Se a pessoa basear sua vida em fenômenos mutáveis, sempre viverá num impasse e sofrerá.

Morte: fato imutável
Na verdade, não há nada mais certo do que o fato de que um dia iremos morrer. Excluindo isso, tudo é incerto e sujeito a mudanças; somente a morte é imutável. Ainda assim, as pessoas tentam se desviar desse fato imutável. (...) a vida daqueles que carecem de uma correta compreensão sobre a vida e a morte é igual à grama sem raízes. Não há dúvidas de que sem uma perspectiva sobre a morte é impossível levar uma vida estável, firmada numa sólida base.

Budismo: um caminho humanista
O antropólogo Prof. Nur Yalman, da Universidade de Harvard, considera que os conceitos primordiais do budismo estão essencialmente em acordo com as pessoas. Segundo ele, todas elas têm de lidar com os quatro sofrimentos não obstante o poder, a riqueza e a fama que possam acumular. Num diálogo com o presidente Ikeda, ele disse: “Somente o budismo confronta essas urgentes questões da condição humana e proporciona respostas claras e profundas que todas as pessoas conseguem aceitar e realmente colocar em prática na sua vida.”

Somente quando compreendemos as questões da vida e da morte é que despertamos para o verdadeiro significado de nossa existência. Quando encaramos a profunda realidade da vida e da morte, percebemos como as nossas preocupações em relação à satisfação momentânea são insignificantes.

Superar os quatro sofrimentos de nascimento, envelhecimento, doença e morte não é uma questão teórica. Devemos ir além dessas questões sobre como conduzir uma vida longa, saudável e realizada e como morrer sem sofrimento. O budismo ensina a ter a sabedoria para conseguir isso.

(Texto publicado no Jornal Brasil Seykio - Edição 2107 - em 12/Novembro/2011 - Página A6)

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